2. Violência no Trabalho.

2. Quais as consequências da violência do assédio moral e sexual e como ele afeta a integridade dos trabalhadores e o ambiente corporativo? O assédio traz danos a saúde mental, como estresse, ansiedade, depressão e burnout. Discutimos a influência das práticas de gestão enquanto causa desses problemas e enfatizamos a importância de políticas organizacionais que garantam um ambiente de trabalho seguro e respeitoso. Exploramos também estratégias eficazes para combater o assédio e promover a saúde mental dos trabalhadores.

Alberto Erich Okada (CRP 01/25.551) e Amadeu Alvarenga (Movimento Saúde)

5/3/2024

No ambiente de trabalho moderno, o assédio moral e sexual são problemas sérios que afetam não só a integridade dos trabalhadores mas também o clima organizacional como um todo. O assédio moral é frequentemente caracterizado por cobranças abusivas e expectativas irrealistas de desempenho, criando um ambiente marcado por pressão constante e medo. Já o assédio sexual pode incluir desde comentários inapropriados até avanços físicos repulsivos, ambos contribuindo para um ambiente de trabalho adoecedor.

Marie-France Hirigoyen, em seu livro "Mal-Estar no Trabalho - Redefinindo o Assédio Moral", enfatiza que o assédio moral não é apenas uma questão de relacionamento interpessoal, mas uma manifestação de poder e controle que se enraíza nas estruturas da organização. Esse entendimento é crucial, pois realça como as políticas organizacionais e a cultura de trabalho podem perpetuar o assédio sem respostas adequadas.

Consequências do Assédio

As implicações do assédio são profundas e variadas. A primeira delas é o impacto na saúde mental, onde o assédio pode causar estresse, ansiedade, depressão e burnout.

A síndrome de burnout é identificada por três componentes principais: (a) exaustão emocional, onde o indivíduo se sente completamente drenado e incapaz de recarregar suas energias emocionais; (b) despersonalização, que se refere a um distanciamento e uma atitude cínica em relação ao trabalho e às pessoas atendidas; e (c) redução da realização pessoal e profissional, onde o indivíduo percebe que suas contribuições não são eficazes ou valorizadas. (Freudenberger e Richelson, 1980)

Os sintomas associados ao burnout abrangem uma ampla gama de experiências negativas. Isso inclui mal-estar geral e uma sensação persistente de exaustão e fadiga, afetando o indivíduo emocional, mental e fisicamente. Há também um sentimento de desamparo e uma diminuição na autoestima, acompanhados pela perda de entusiasmo pela profissão e, em casos mais graves, pela vida em geral. Adicionalmente, surge a sensação de estar esgotado ao ponto de não se sentir capaz de oferecer suporte ou cuidado a outras pessoas, refletindo uma profunda escassez de recursos pessoais. (Pines em 1981)

Jeffrey Pfeffer, em sua obra "Dying for a Paycheck", alerta sobre como práticas de gestão inadequadas que negligenciam a saúde e o bem-estar dos trabalhadores podem criar ambientes de trabalho extremamente nocivos, exacerbando problemas como assédio moral e sexual. Ele destaca que essas políticas não somente prejudicam os trabalhadores, individualmente, mas também ameaçam a sustentabilidade das organizações. Pfeffer expõe a profunda influência do trabalho na saúde humana, mostrando que certas práticas laborais são tão adversas que as pessoas estão literalmente morrendo por conta de seus empregos. Ele também comenta que, embora nossos ancestrais evolutivos tivessem benefícios ao responder ao estresse com aumentos na frequência cardíaca, fluxo sanguíneo e de oxigênio — uma resposta evolutiva para lutar ou fugir —, hoje, o excesso crônico de cortisol, o hormônio do estresse, leva a inflamação sistêmica e morte celular acelerada, entre outros sérios problemas de saúde.

Estas condições podem ter efeitos de longo prazo, prejudicando significativamente a qualidade de vida das vítimas. Além disso, há uma redução da produtividade, pois o medo e a insegurança minam a capacidade de trabalho, impactando negativamente os resultados da empresa. Frequentemente, isso também leva a um alto índice de absentismo e rotatividade, com trabalhadores sendo movidos de seus postos ou até deixando a empresa, muitas vezes resultando em rebaixamento de função, ou demissão.

Quando as organizações optam por remanejar os trabalhadores assediados em vez de confrontar os assediadores, não resolvem a raiz do problema e introduzem desafios adicionais para as vítimas. As dificuldades de adaptação ao novo setor são exacerbadas pela percepção de que a mudança foi uma forma de punir a vítima, não o agressor, gerando sentimentos de isolamento e vulnerabilidade. Além disso, a vítima pode carregar consigo uma percepção de vergonha e imagem negativa, sendo vista como polêmica ou culpada pela situação de assédio. Isso pode prejudicar seriamente sua integração e aceitação no novo grupo. Assim, a vulnerabilidade à exclusão social no novo ambiente de trabalho e a falta de acolhimento humanitário são falhas organizacionais graves que impactam a saúde mental da vítima, dificultando sua reintegração profissional.

Recomendações para Melhoria

Ana Cristina Limongi França e Avelino Luiz Rodrigues, no livro "Stress e Trabalho - Uma Abordagem Psicossomática", destacam que o ambiente de trabalho deve ser compreendido como um espaço de promoção de saúde e não apenas como fonte de riscos (França & Rodrigues, 2005). Este comentário ressalta a necessidade de políticas que não somente evitem o dano, mas também promovam ativamente o bem-estar.

Para combater efetivamente a violência por assédio, algumas estratégias abrangentes são essenciais. Primeiramente, a implementação de políticas claras contra o assédio, com definições precisas e protocolos de ação claros, é crucial. Isso assegura que tanto vítimas quanto testemunhas se sintam seguras ao relatar incidentes. Além disso, a realização de programas regulares de treinamento e sensibilização para todos os trabalhadores, incluindo pessoas que exercem função de chefia ou liderança, é vital. Esses programas devem focar na prevenção do assédio e na promoção de um ambiente de trabalho respeitoso e inclusivo. Também é importante estabelecer mecanismos de denúncia efetivos, que sejam anônimos e acessíveis, com processos transparentes e justos, incentivando os trabalhadores a utilizá-los sem medo de retaliações. Finalmente, é necessário garantir que os assediadores enfrentem consequências apropriadas às suas ações.

Estas medidas, quando apoiadas pela alta direção e implementadas de forma consistente, podem transformar significativamente o ambiente de trabalho, promovendo uma cultura de zero tolerância ao assédio e garantindo que todos os trabalhadores, independentemente de sua posição ou departamento, sintam-se seguros e respeitados.

Referência Bibliográfica

Hirigoyen, M. (2002). Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Tradução Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

Freudenberger, H. J., & Richelson, G. (1980). Burn-out: the high cost of high achievement. 1st ed., Garden City: Anchor Press.

Pines, A. M., Aronson, E., & Kafry, D. (1981). Burnout: From Tedium to Personal Growth. New York: The Free Press.

Pfeffer, J. (2018). Dying for a Paycheck: How Modern Management Harms Employee Health and Company Performance—and What We Can Do About It. New York: Harper Business.

França, A. C. L., & Rodrigues, A. L. (2005). Stress e trabalho: Uma abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas